12 de out. de 2006

E falando nas Eleições...

Se eu fosse uma pessoa egoísta teria votado no Lula no primeiro turno, e no segundo também. Mas não sou! Quando voto em alguém para presidente, voto em alguém que se preocupe com o meu país todinho, de leste a oeste e de norte a sul.
Caso o Lula ganhasse, seria ótimo para o meu estado, já que o governador é amigo do Presidente e o Lula gosta muito do Acre, libera grana para quase tudo a que o governo se propõe a fazer e por isso facilitaria muita o próximo governo.
Mas o presidente não governa só o meu estado e sim todos os outros, que precisam muito mais do que o Acre em termos de segurança pública e saúde. Recebi um email sobre Opinião Pública e resolvi colocar aqui pra que vocês pudessem ler e não repetir no resultado das eleições o resultado de algumas pesquisas do ibope que vemos agora...


A opinião pública ainda existe. O segundo turno nos devolve a dignidade e será bom para que Lula volte à humildade mínima.

"São duas horas da manhã de segunda-feira. Só agora vou escrever este artigo, pois tinha de esperar o resultado da votação.Estou vagamente irritado, pois escreverei até as cinco da "matina", masestou contente, porque a resposta do país foi sensata.
Se o Lula fosseeleito no primeiro turno, como ele apregoava, aos berros no palanque em SãoBernardo, num show onde ele parecia um Mick Jagger metalúrgico, a vitóriaseria péssima até para ele.
Se Lula fosse eleito em primeiro turno, estaria consagrada a mentira, o cinismo, a ocultação de provas, a arrogância truculenta dos métodos decampanha. Se Lula fosse eleito no primeiro turno, o país não entenderia seu destino, depois daquela campanha turbulenta, com a gralha do agreste Heloísa berrando slogans dos anos 30, com o Cristovão falando coisas sériasmas inaudíveis.
Se Lula fosse eleito de cara, ele começaria um governo doeu-sozinho, sem um programa que o segundo turno vai obrigá-lo a fazer; se eleito fosse, o PT e aliados se sentiriam num clima "revolucionário", oscutistas e sindicalistas estariam legitimados em suas sabotagens.
O saborde uma vitória em primeiro turno, com tudo ocultado, seria a vitória da violência contra a razão, se consagraria a idéia de que não precisava nem programa de governo, de que bastam as juras de amor ao "povo", as belezasdo analfabetismo e a grandeza da "sagrada ignorância operária" para justificar um presidente.
Tudo que intelectuais e artistas ignorantes disseram, desde a "condenação da competência", desde a atribuição dos mensalões à "uma invenção da mídia", desde os brados boçais de dizer que "tudo sempre foi assim e que tem mais é que meter a mão na merda", que democracia é uma "patranha burguesa para enganar o povo", todas as besteiras impunes que ouvimos nos últimos meses estariam legitimadas, co-onestadas pelo voto bovino e consagrador.
O segundo turno será uma psicanálise para o Lula, uma revisão crítica de seu deslumbramento milagreiro, como um Tiradentes ou um Cristo traído.
O segundo turno será bom para o Lula voltar à humildade mínima. Nos últimos meses, houve uma batalha feroz entre marketing e mídia, entrepropaganda e imprensa. A democracia estava desmoralizada pelos métodos pós-modernos de escolha. O PT estava vencendo uma revolução ridícula, mas era uma revolução: bolchevistas tardios estavam realizando o sonho secretodos comunas - desmoralizar a democracia.
Tinham imposto à opinião pública adepressão da impotência. Os mensalões, a careca do Valério, os dólares na cueca, o sólido cinismo dos acusados, a inutilidade das provas, tudo estava amortecido na memória, enquanto o "comandante" proclamava que as "elites de direita" seriam vencidas. E as "elites" (quem são?) estariam acoelhadas diante da eufórica vitória populista. Mas, nem precisaram despertar umadireita (quem, se Barbalho e Newtão são aliados? ).
Os próprios petistas trapalhões mais uma vez deram uma rasteira em Lula e em si mesmos.
A invenção sublime do "dossier" contra o Serra foi um gol-contra espantoso.
Aliás, essa fascinante propensão do PT para destruir as próprias vitórias está a pedir um estudo sério. Freud tem um texto, se não me engano, chamado "O Fracasso do Êxito", em que o vitorioso acaba se consumindo de culpadiante do sucesso.
Nunca uma hipotética direita foi tão auxiliada por uma ridícula esquerda. O segundo turno será muito bom para a democracia, pois os candidatos serão obrigados a discutir programas, para além das baixarias inevitáveis. Agora, o Lula e seus assessores terão de ser democráticos. Os programasserão discutidos e a oposição terá tempo e ânimo para explicar ao "povo" a cartilha da subversão pela corrupção, explicar como se invocam idéias sérias de grande homens do passado para, hoje, no presente, justificar uma chanchada oportunista de pelegos e bolchevistas aposentados.
Será claro como eles pretendiam des-construir a democracia reconquistada em 1985 emnome de um cadáver desmembrado apelidado de "socialismo" que, por serimpossível hoje, se degradaria num baixo populismo de direita sob o apelido "de esquerda".
Agora, o povo vai prestar atenção na disputa, como umFla-Flu decisivo. Acaba a profusão de times e de caras, acaba a poluiçãovisual dos ratos e toupeiras ganindo no horário eleitoral e teremos um confronto.
Agora, estamos diante do mistério de uma disputa, mas não estamos mais perante o inevitável fracasso dos que venceriam. Antes, eu tinha a certeza do desastre, pela lógica mais óbvia da ciência política, pela banal previsibilidade dos voluntaristas e sindicalistas truculentos.
Agora, a racionalidade vai se impor de novo. Idéias vão surgir, provas e auto-críticas terão de aparecer.
Estamos diante de um momento histórico interessantíssimo. Sei que os chineses dizem: "Pobres daqueles que vivem um momento histórico interessante"...Talvez, pois os "grandes momentos" são em geral massacrantes e sanguinários. Mas, não nosso momento. Veremos um país na mesa posta. Veremos um país dividido sim, não pela irracionalidade, mas entre duas tendências políticas. Um segundo turno nos fez reviver, nos sentimos mais respeitados. Nós, que andávamos cabisbaixos, não somos mais palhaços manipulados por uma ditadura mole, disfarçada de democrática. Descobrimos, maravilhados, que aopinião pública ainda existe."

Arnaldo Jabor

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