16 de jan. de 2008

LOUCOS POR UM DOCINHO

O desejo por açúcar não é apenas uma questão de paladar. Essa vontade, quase incontrolável em algumas pessoas, parte mesmo é do cérebro - e não do estômago



"Faria qualquer coisa por um docinho..." Quantas vezes, você não ouviu ou falou essa frase? Para muita gente, comer uma guloseima açucarada transmite a imediata sensação de bem-estar e euforia. Segundo o psicólogo Alexandre Azevedo, coordenador do Grupo de Estudos em Comer Compulsivo e Obesidade (Grecco), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, há muitos fatores que explicam essa busca desesperada pelos doces. A maioria, não se espante, tem a ver com a sua fisiologia e com um comando do cérebro. É... dele mesmo - o senhor das nossas vontades nesse caso.




"Quando submetida a um período de jejum prolongado, qualquer pes soa busca alimentação rápida e reposição de energia. Os doces são campeões nesse quesito", afirma o psicólogo. Outra razão que vem ganhando força entre os especialistas é a ação dos neurotransmissores (substâncias produzidas no cérebro e que favorecem a comunicação entre os neurônios). Eles trabalham a todo vapor quando ingerimos açúcar. Esse aporte faz com que o organismo produza insulina. Uma parte desse hormônio vai ajudar o grupo dos aminoácidos a levar energia para os músculos.

Outros, como o triptofano, tomam caminho diferente. "Aumentam a concentração de serotonina - a grande responsável pela sensação de bemestar", diz o nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran). Quando os níveis dela baixam, o cérebro manda um alerta, desencadeando a vontade de comer doces. Há ainda uma corrente de pesquisadores que atrela a vontade exagerada de comer açúcar ao período em que estivemos dentro do útero, na gestação. "Nessa fase, o bebê está envolvido pelo líquido amniótico, que é doce. Então, ele já nasce com a necessidade por esse sabor", afirma o nutrólogo.

Depois do nascimento, esse paladar é reativado com as mamadeiras adoçadas. Um pouco mais tarde, ganhar doces passa a ser sinônimo de recompensa. Na fase adulta, quando a pessoa sente falta de afeto ou está triste vai buscar a compensação justamente no bolo ou no pudim. É por isso que muita gente não abre mão de sua porção diária. "Há pessoas que se condicionaram a comer doce todos os dias. Quando não tem nada parecido por perto ficam irritadas, ansiosas e até deprimidas", afirma a endocrinologista Claudia Cozer, diretora da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso).

Os especialistas acreditam que a queda na produção da serotonina aciona a compulsão por doces

Nos casos mais desesperadores, loucuras são cometidas, como sair durante a madrugada para comprar balas, largar uma reunião de trabalho no meio e até mesmo se deliciar com açúcar puro. "Pesquisa realizada em 2002 pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo mostrou que, na hora do desespero, há quem coma até um quilo de chocolate de uma só vez", alerta Claudia Cozer. No entanto, no dia seguinte, além do mal-estar físico, a pessoa sente uma tremenda culpa pelo excesso cometido.

CONTROLE ESSE IMPULSO JÁ!

Conheça algumas estratégias para driblar a vontade:


- Respeite os horários das refeições e os intervalos, evitando que a fome chegue antes da hora.
Não faça jejum. O risco de ir à forra depois, é grande.
No supermercado, dê preferência a alimentos pouco calóricos. Escolha frutas e vegetais à vontade.
Evite estocar doces, biscoitos e bolos prontos em casa.
Quando a vontade surgir, desvie o foco de sua atenção. Boas técnicas são beber um copo de água ou refrigerante diet ou, ainda, escovar os dentes.
Coma algum alimento ácido, como azeitona ou picles, para alterar o paladar.
Se a vontade persistir, opte pelas barras de cereais integrais, mais saudáveis.
E o mais importante: jamais leve o chocolate ou o pacote de biscoito para a frente da TV ou do computador.


Vítimas potenciais
A tese de que as mulheres são mais formiguinhas do que os homens ainda divide os especialistas. "Não há trabalhos científicos que sustentem essa idéia. Acredito que isso é cultural", afirma o psicólogo Alexandre Azevedo. Há quem confirme a necessidade feminina por açúcar. "A mulher tende a procurar doces no final do dia. Talvez essa busca esteja ligada aos níveis de serotonina do cérebro, que cai nesse período", explica a endocrinologista Claudia.


Outro período em que essa procura se acentua é no pré-menstrual. "Na TPM existe uma queda hormonal diretamente ligada aos neurotransmissores cerebrais, que provoca uma vontade quase incontrolável de comer doce", afirma a psiquiatra Veruska Lastória, do Programa de Orientação e Assistência aos Pacientes com Transtornos Alimentares (Proata) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A compulsão só é encarada como doença quando os episódios de gula acontecem, pelo menos, duas vezes por semana por seis meses consecutivos. Quem vive uma situação assim precisa de ajuda médica para reencontrar o equilíbrio.

Guloseima do mal
Apesar de causar toda essa sensação de bem-estar, a ingestão exagerada de alimentos doces a curto e longo prazos traz prejuízo ao seu organismo. O primeiro e mais provável é a obesidade. Estima-se que 75% das pessoas que tenham algum tipo de compulsão alimentar estejam fora do peso. "Além de muito açúcar, as guloseimas são, geralmente, gordurosas. Essa mistura pode alterar os níveis de colesterol e causar problemas cardíacos", afirma a endocrinologista Claudia Cozer, diretora da Abeso.

O nutrólogo Durval Ribas Filho acrescenta que, a longo prazo, o consumo excessivo de doces e outras guloseimas pode favorecer o desenvolvimento de diabetes tipo 2. "A ingestão em grande quantidade irá sobrecarregar o pâncreas, que produzirá mais insulina para metabolizar o açúcar", explica. "Com o tempo, o órgão entra em falência parcial e então surge o diabetes", conclui. O mecanismo é muito simples de entender. Imagine que cada pessoa nasce programada para fabricar uma determinada quantidade de insulina por toda a vida. Quando sobrecarregado pelo consumo excessivo de açúcar, o pâncreas pára de trabalhar. Esse açúcar vagando pelo corpo eleva os níveis de glicemia (as taxas de açúcar), provocando o diabetes tipo 2. Portanto, vá com calma no próximo ataque!

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